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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pari Cachoeira


Pari-Cachoeira


Pari-Cachoeira é uma comunidade do Tiquié que já perdeu muito da cultura indígena. Extremamente influenciada pela igreja católica possui uma imensa igreja. Para piorar as coisas, um pelotão de fronteira se instalou no local e a presença dos militares terminou de extinguir o restante de cultura preservada existente. Uma das primeiras cenas avistadas durante a chegada em Pari além das construções da igreja católica são as cachoeiras da "cidade". As primeiras cachoeiras de todo o trajeto do médio Tiquié. Quando o rio está cheio,as
voadeiras cruzam as cachoeiras normalmente; quanto mais o rio vaza, mais difícil fica transpor estas.
Eu costumava passar o final de semana em Pari para poder telefonar para a família em São Gabriel da Cachoeira. Ficava no pólo-base de propriedade da Federação das Organizações indígenas do Rio Negro – FOIRN, localizado na beira do rio nesta comunidade. Sempre encontrava por lá a equipe de enfermagem do pólo ou qualquer outra equipe que estivesse transitando por lá. Durante o dia passeava pelas trilhas e conhecia as cachoeiras dos igarapés adjacentes. O pelotão se encontrava mais no interior da mata e possuía até pista de pouso para os Hércules, helicópteros e outras aeronaves. Atrás do pelotão, duas horas e meia de caminhada, se encontrava uma comunidade Hupda que só a pouco tempo, apesar da proximidade da grande comunidade de Pari, foi contatada pela equipe médica. Em um destes finais de semana, eu e a minha equipe preparamos o material e partimos com a nossa voadeira motor Yamaha de 15 hp.Uma hora e dez minutos separam a comunidade de Pari do pólo base aonde me encontrava que se chama São José II. Durante a viagem, as inúmeras curvas do rio Tiquié, vão dando o contorno a ser seguido por nós até chegar no obstáculo natural que são as cachoeiras de Pari.
Sempre que andava de voadeira andava despreocupado e o colete salva vidas era um artigo pouco usado e quando usado servia mais como almofada de assento já que o banco da voadeira não é nada confortável. Neste dia estava de coturno, calças compridas e camiseta. Havia esquecido o meu colete no pólo de São José II e não sei porque, desta vez logo após verificar que havia esquecido o meu colete fiquei um pouco preocupado. Com o peso do coturno nos pés e a calças ficaria muito mais difícil nadar e o peso dos acessórios serviriam como chumbo me levando diretamente para o fundo no caso de um acidente.
Segui mesmo assim o trajeto. Quando avistamos Pari Cachoeira, notei que o rio estava mais seco do que estava nos dias anteriores. O receio da violência aparente destas cachoeiras era contrabalançado pela experiência do prático nesta região. Já havia cruzado as cachoeiras com um motor de 40 hp, mas com um de 15 hp nunca. Ao anunciar que iríamos cruzá-las minha preocupação aumentou, mas mesmo assim brinquei perguntando se o meu saco de dormir serviria de colete salva vidas. O prático acelera e vai de encontro às águas revoltas. Diminuiu um pouco a velocidade em um remanso logo ao lado do despejo das águas. Tão perto assim as águas se tornaram ainda mais assustadoras. Ondas enormes se formavam ao nosso lado e somente um estreito trecho desta cachoeira era navegável. Naquela hora aquele estreito trecho me parecia intransponível, mas com já havia cruzado aquelas águas sabia que era possível. Acelerando a todo o "vapor" o prático sobe a cachoeira, à medida que sobe noto que o motor não responde direito e durante uns segundos a voadeira
não sobe mais. Aqueles segundos pareciam eternos. Neste momento a preocupação já se transformara em um anúncio de acidente. A proa da voadeira estava no topo da cachoeira e foi quando uma das ondulações que se formavam no topo desta atingiu a proa. A voadeira que seguia seu caminho mesmo que lentamente, agora começava a andar de lado e para trás. Ao olhar para trás para ver se ainda tínhamos alguma chance notei que só um milagre nos impediria de afundar. Três ondas enormes se encontravam em nosso caminho. Já navegando completamente sem controle a favor da correnteza, atingimos a primeira massa de água. Água entrando por todos os lados anuncia o nosso destino. Antes de atingir a segunda onda que era a maior de todas e com certeza viraria a nossa embarcação saltei em direção à margem do rio. Logo após saltar atingi algumas pedras no fundo e me agarrei nelas como quem agarra a sua vida. Escalei algumas pedras na margem e me vi em segurança. Ao checar para ver se os outros também estariam em segurança vejo a voadeira de cabeça para baixo presa nas pedras, vejo o auxiliar de dentista que me acompanhava no remanso com o seu aparelho de som na mão e apoiado em sua bagagem que boiava lutando para se manter na superfície, e vejo também o prático que era o único com colete sendo levado corredeiras abaixo.
Ajudo o ACD a sair da água puxando com as minhas mãos até as margens de pedra e logo após corro para ver se conseguiria salvar o resto das coisas. Como estava, de coturno e calça comprida e não teria coragem de cair com todo este peso na água, tiro estes e de cueca e sem camisa pulo na água novamente para tentar recuperar nossas coisas. A voadeira já havia se desprendido da pedra e o prático já havia agarrado esta mais abaixo. Os dois se encontravam em uma pedra no meio do rio e enquanto isto, nossa única lona descia rio abaixo. Pulo na água e nado de encontro ao nosso barco e o prático. Ao chegar lá este já havia virado o barco, e várias de nossas coisas que ficaram presas em baixo do barco virado estavam em cima da tal pedra. Olho para os meus pertences e fico mais tranqüilo de não ter perdido nada. Ajudo o prático a tirar toda a água do barco e durante este tempo já estava anoitecendo já que chegamos na cachoeira bem na hora do crepúsculo. Com toda a água fora do barco remamos com nossos pratos que conseguimos salvar e remamos até a lona que tinha ficado presa em uma pedra mais abaixo. O motor, todo encharcado, já não funcionava mais. Após salvar a lona remamos até a margem em segurança.
Ofegantes após tanto trabalho descansamos na margem para avaliar as perdas. Roupas completamente molhadas e rancho completamente úmido. Alguns arranhões apenas. A única perda mesmo foi a capa que cobria o motor e a caixa de ferramentas do prático que foram as únicas coisas que não boiaram.
Cansados e encharcados seguimos caminho até o pólo. A voadeira ficou em um porto abaixo da cachoeira. Apesar de cansado estava muito aliviado de não ter acontecido alguma coisa pior. Com as roupas completamente molhadas cheguei no pólo para descansar e encontro nossos amigos de Pari. Mais tarde descubro que acidentes assim são relativamente comuns naquela cachoeira e ouço estórias de diversos outros acidentes semelhantes.
Vou para o meu quarto lá neste pólo que é o consultório dentário e somente de cueca molhada penso sobre o que se passou. Após o acontecido dá até para rir, mas com certeza uma lição ficou disto tudo: - Por mais tranqüilo que um rio seja, este é imprevisível e é sempre bom VESTIR O COLETE SALVA VIDAS.....................

11 comentários:

Anônimo disse...

O exército e a igreja católica destruiram a cultura indigena da região de pari??? Vc não sabe a bosta q esta falando... essas duas instituições fizeram mais por essa região do que todos os da sua profissão fizeram pelo nosso país... vai estudar primeiro o q o trabalho da igreja e do exército fazem na amazônia antes de postar uma merda dessa aqui!!!

Unknown disse...

Mê de suas fontes e quem sabe eu mudo de opinião.. Só escrevi o que vi e o que estudei em antropologia. A destruição de uma cultura é a eliminação de traços característicos de origem da própria comunidade. Se você está me dizendo que o cristianismo originou da cultura indígena tudo bem, se você diz que o exército, que domina sua região não tem nenhuma influência em sua cultura original acho que está tendo problemas em relação a suas fontes. A língua indígena foi eliminada pela igreja, o exército até incorporou alguns linguajares próprios de sua instituição como capitão para cacique, terçado entre outras. Portanto, acho que está mais que provado que com o exército e a igreja tiveram sim influência negativa na cultura indígena.
Inclusive, alguns dados retirei de entrevistas com os próprios indígenas, fato que creio nunca aconteceu com você.
Aguardo a literatura que comprova que a ingreja e o exército nunca tiveram nenhuma influência na cultura indígena. Se quiser literatura comprovando o contrário, me escreva e te enviarei montanhas de informações para o seu estudo.

Unknown disse...

Se você é militar, me diga então porque o exército só faz ações na Amazônia uma vez por ano, e quando faz aparece no fantástico para dizer que está sempre presente lá. Não se esqueça que estive na floresta por anos e sei do que estou falando. Enquanto os profissionais de saúde contratados pelas ONGs vão até o final do Igarápé castanho, os profissionais de saúde do exército, ficam refugiados em seus consultórios, que não atendem a população local..

Anônimo disse...

Vamos por parte, primeiramente não sou militar, sou filho de pais nascido em pari cachoeira, então falo com propriedade de um verdadeiro filho da terra, não como um mero aventureiro que passa alguns dias ou meses por aqui e apontam o dedo para nossa região tentando julgar o que é bom ou ruim para nós. Para finalizar a parte de instituição, e não me alongar muito, vou tocar só em dois pontos, primeiro a saúde, todas, mas eu digo todas as vezes que nossa comunidade preciso de tal auxilio, recorremos ou a igreja ou ao pelotão do exercito, e sempre eles estão dispostos a nos socorre, seja para atendimento, medicação e até mesmo evacuação, só para te lembrar, essas duas intuições não tem a minima obrigação de prestar esse auxilio, a finalidade de uma aqui é religiosa e da outra proteção, mas mesmo assim fazem isso de bom grado, então não venha você me dizer que eles se trancam no mundo deles e esquecem de nós, e a propósito, quem deveria cuidar dessa parte de ajuda sanitaria são os polos do governo de saude e as ongs que se predispoe a oferecer tais serviços, e que sempre estão de portas fechadas aqui na comunidade, mentira minha, me descupa, as vezes voces aparecem sim, passam dois dias aqui fazendo turismo e sempre prometendo voltar com as soluções para tais problemas de saúde. Que o exército e a igreja só fazem ações na amazonia uma vez por ano, me diga como meu amigo? Se aqui por exemplo são as unicas instituições que permanecem aqui 365 dias por ano,sempre,sempre tem um militar ou um representante da igreja aqui na comunidade, diferente das ongs, que aparecem de vez em nunca, ai você me diz que eles não fazem ações? é, percebe-se quem faz né? Eu não vi uma ou duas vezes as voadeiras dos militares ou da igreja cruzando o rio tiquié para ajudar nosso povo não, foram inumeras, varias vezes que isso acontece. Segundo ponto é em relação ao nosso desenvolvimento social, que esse ano deu um bom salto graças a chegada de energia elétrica aqui na nossa comunidade, mais uma vez, só para o seu conhecimento, os principais orgãos que articularam esse meio pra gente, mais uma vez foi o exército e a igreja, junto com a comunidade, lembrando mais uma vez que essas instituições não tem o dever fim com esse compromisso, quer dizer, o exercito até tenha, por que eles dizem que tem que contribuir com desenvolvimento nacional e outros motivos, mas a igreja, e mesmo assim os dois fazem de bom grado. Se hoje temos energia aqui, é por que existe representante da igreja brigando com politicos e militares trabalhando e operando nossa usina, eu não vi nenhuma ong fazendo nada nesse sentido por aqui, se teve alguma influência, por favor me diga.

Anônimo disse...

Agora vamos tocar no ponto da influencia cultural, culpar o exercito e a igreja por estar destruindo a nossa cultura, simplesmente por estar aqui, é muito fácil, mas o que realmente o nosso povo quer? Você sabe? Então não faça acusações sem fundamento. Queremos sim manter nossa cultura viva, mas queremos também contato com o restante do mundo, e isso inevitavelmente acaba influenciando sim o nosso modo de viver, mas isso não significa destruição cultural, a cultura nordestina, a cultura sulista, por exemplo, se mantem muito viva até hoje, mesmo tendo em seu meio representantes de diversas áreas, não só do exército e da igreja. Para se preservar a cultura de um povo, não necessita que se isole uma região, do resto do mundo, não necessite que nosso povo continue a viver de forma indigna e miserável, basta que as nossas comunidades queiram manter viva as nossas tradições, influência de fora sempre aconteceu com todas as culturas do mundo, agora preservação e manutenção da mesma, só depende da gente. Mas você quer saber a verdade? Realmente a pura verdade? Pessoas como você, não tem a mínima intenção de preservar a nossa cultura, o único objetivo de pessoas como você é nos manter marginalizados da sociedade, nos deixar a parte do restante do mundo, o que pessoas como você querem, é que o nosso povo se mantenha na forma que é para que “turista” como você sempre tenha um local no meio da Amazônia para passear e tirar fotos, se divertirem a custa de um povo que pessoas como você não querem que tenha desenvolvimento social e econômico. É muito fácil pra pessoas como você passar por aqui alguns dias e retornarem para uma sociedade onde te oferecem tudo, vem viver aqui na nossa comunidade sem a “tal influencia” social que pessoas como você querem manter afastado da nossa região!

Anônimo disse...

Por ultimo, não sou militar, infelizmente, gostaria de pertencer a tão nobre instituição, mas a idade não permite mais tal sonho. Por isso estou trilhando outro caminho, no qual vejo a oportunidade de contribuir com o meu povo, hoje me encontro em Manaus, estou concluindo meus estudos para seguir minha vocação religiosa e poder retornar a minha terra, para lá viver, viver e não simplesmente passear.

Carlos disse...

O sr "anonimo" só podia ser padre, ou melhor, candidato a padre pra dizer tanta asneira. Não é a tôa que vcs aí em Parí gostam tanto do Padre Ivo, que só serve pra fumar e beber, pra não falar mais nada.
Realmente não precisam do exercito ou igreja pra destruir a sua cultura, vcs fazem isso sozinhos.
Cultura à parte vocês só precisam de um muro pra se encostar, pois devem estar cansados de se embebedar, furtar e destruir patrimônio alheio.
Conheço bem o "distrito" de Pari Cachoeira e concordo plenamente com o Eduardo.

Anônimo disse...

quem

Anônimo disse...

Oh!Carlos! quem você pensa que é para falar assim do meu povo!
se eles bebem ou se destroem você não tem nada haver com isso, e sobre o padre Ivo vc esta muito enganado ele ajuda muito o meu povo e eu particulamente gosto mutio dele, vc não sabe o q ele fez por nois,fica ae julgando sem conhecer.

Anônimo disse...

Olha, eu acho que nenhum de vocês sabe do que está falando...
Na minha opinião, a igreja é uma instituição corrupta, o verdadeiro "ópio do povo", e vem, desde o início de sua missão na região, acabando com a cultura indígena.
O exército é uma bosta
E as ONG's também.
É isso
Bom mesmo é índio pelado correndo no meio do mato

Unknown disse...

Morei por 1 ano em pari cachoeira em termo de cultura o exercito e a igreja catolica eles nao so destruiram a cultura mas tmbem acabou com as as aldeias .