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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

HARLEY


Cidade...Concreto....

INVERNO
Comecei a andar de moto. Moto é tudo de bom! O fator trânsito é eliminado completamente diminuindo, consequentemente, o fator estresse. Aumenta o tempo disponível, faz o trabalho render mais, vc tem mais tempo para descansar e, se sobreviver, ficar com a família. É altamente econômica dando até para fazer uma daquelas viagens interestaduais por mês comentadas no manual de turismo para pobre (vide crônica setembro de 2008, Manual de Turismo para Pobre). Além de tudo é relaxante e uma aventura por si só. Sentir o vento batendo no seu rosto é uma sensação indescritível de liberdade.

FINAL DE INVERNO
Primeiro dia de chuva. Me Molhei! Comprei uma capa.
Segundo dia de chuva. Molhei meu sapato! Comprei um protetor de sapatos.
Terceiro dia de chuva. Torrencial! A capa está vazando, entra água pelos punhos que vai até o cotovelo. Vou ter que comprar uma luva.
Quarto dia de chuva. PEGUEI O CARRO!!!! Ninguém e de ferro!!!!!!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PASSO A PASSO III (PASSO FINAL)


Barro, floresta...
MAIS UM POUCO DE CAMINHADA, PASSO A PASSO.
Oito quilômetros e meio mais tarde, desde o início, encontro a enfermeira no posto sobrevivendo da comida do pessoal da FUNAI.
Estes se encontram lá para cobrir o telhado das construções que servirão de escola improvisada e construir a cozinha do chefe de posto que será nosso novo companheiro aqui no meio do mato.
A central, como é chamado o local do posto de saúde, mais tarde será um local que terá escola, igreja no estilo arquitetônico dos Chiquitanos bolivianos, posto de saúde, posto da Funai, uma
pequena indústria de farinha, uma palhoça para reuniões, um armazém e um campo de futebol. Será sede de projetos de apicultura,agricultura, piscicultura outros projetos ainda no papel.
Quarta feira, dia 23\03\05, o pessoal da Funai deixa o local e agora é só eu e a enfermeira. Como não tivemos nenhum contato com o motorista,que traria o grosso do nosso rancho – comida -, vamos até o nosso vizinho indígena que fica à uns 300 metros.
A solidariedade da comunidade agora é essencial. Enquanto comemos restos de carne seca da FUNAI, sobras do arroz da última viagem,
abóbora cozida que colhi nos arredores do posto e um refogado de maxixe colhido também nos arredores, o tempo passa e nada de notícias.
Pedimos a bicicleta emprestada para ir até o destacamento militar telefonar.

Nove quilômetros, uma queda da enfermeira e uma topada no meu dedão mais tarde chegamos. Utilizamos o orelhão e ouvimos a tão conhecida e odiada mensagem: - A sua ligação está sendo encaminhada para a caixa postal. Maravilha!!!!!!! A solução é esperar..
Seis dias depois de sair de Cuiabá estamos aqui em plena manhã de sexta feira à espera, sem medicamentos, condução e quase sem alimentação. A esperança é a última que morre como dizem por aí. Gostaria que fosse diferente, mas neste momento, peço licença a nosso amigo, Boris Casoy, e finalizo com a sua famosa sentença:
ISTO É UMA VERGONHA!!!!!
É ou não é???????
CHEGUEI!!!! E ENQUANTO ISTO A JÚLIA AÍ EM CIMA ME OLHANDO DE LONGE!!

PASSO A PASSO III (PASSO FINAL)

Terra, Selva.......

MAIS UM POUCO DE CAMINHADA, PASSO A PASSO.
Oito quilômetros e meio mais tarde, desde o início, encontro a enfermeira no posto sobrevivendo da comida do pessoal da FUNAI.
Estes se encontram lá para cobrir o telhado das construções que servirão de escola improvisada e construir a cozinha do chefe de posto que será nosso novo companheiro aqui no meio do mato.
A central, como é chamado o local do posto de saúde, mais tarde será um local que terá escola, igreja no estilo arquitetônico dos Chiquitanos bolivianos, posto de saúde, posto da Funai, uma
pequena indústria de farinha, uma palhoça para reuniões, um armazém e um campo de futebol. Será sede de projetos de apicultura,agricultura, piscicultura outros projetos ainda no papel.
Quarta feira, dia 23\03\05, o pessoal da Funai deixa o local e agora é só eu e a enfermeira. Como não tivemos nenhum contato com o motorista,que traria o grosso do nosso rancho – comida -, vamos até o nosso vizinho indígena que fica à uns 300 metros.
A solidariedade da comunidade agora é essencial. Enquanto comemos restos de carne seca da FUNAI, sobras do arroz da última viagem,
abóbora cozida que colhi nos arredores do posto e um refogado de maxixe colhido também nos arredores, o tempo passa e nada de notícias.
Pedimos a bicicleta emprestada para ir até o destacamento militar telefonar.

Nove quilômetros, uma queda da enfermeira e uma topada no meu dedão mais tarde chegamos. Utilizamos o orelhão e ouvimos a tão conhecida e odiada mensagem: - A sua ligação está sendo encaminhada para a caixa postal. Maravilha!!!!!!! A solução é esperar..
Seis dias depois de sair de Cuiabá estamos aqui em plena manhã de sexta feira à espera, sem medicamentos, condução e quase sem alimentação. A esperança é a última que morre como dizem por aí. Gostaria que fosse diferente, mas neste momento, peço licença a nosso amigo, Boris Casoy, e finalizo com a sua famosa sentença:
ISTO É UMA VERGONHA!!!!!
É ou não é???????
CHEGUEI!!!!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

PASSO A PASSO II


Poeira, Mata...
CONTINUANDO MEUS PASSOS.

Às 17h00min horas subo na caçamba da caminhonete S10 do vereador, junto com o filho do secretário de obras de oito anos e a babá dos filhos do mesmo secretário.
A caminhonete estava forrada com um colchão e seguimos com certo conforto, mas não antes de uma chuva ameaçar a nossa tranqüilidade. Felizmente ficou só na ameaça.
À medida que o carro entra na estrada de chão, olho para a nuvem de poeira que ficava para trás, para as fazendas e florestas do trajeto. A lua crescente já despontava no céu ainda claro.
A caminhonete "patrolava" a estrada como dizem por aqui, o que quer dizer que estava rápida e passando por cima de todos os buracos. Isto me fez lembrar muito a minha infância quando meu pai passava por cima de todos os quebra molas da estrada em nossas viagens de família.
A cada buraco maior meu copo decolava meio metro do chão enquanto o menino dormia frente
aos pulos e a babá tentava se acomodar da melhor maneira possível.
A viagem continua o sol se despede, a lua e a escuridão dominam o cenário. A poeira não se vê mais e o barulho do motor e da trepidação do veículo misturava-se com o som dos grilos, sapos e
pererecas.
O carro segue em frente com as corujas (bacuraus) voando rente ao teto do carro tentando desviar do mesmo. Estas corujas ficam geralmente nomeio da estrada à noite, fazendo não me pergunte
o que.
Duas horas de viagem, chego à vila picada bastante cansado e descubro que o ônibus escolar não veio trazer as crianças esta noite. Seu Ailton, o vereador, oferece a sua casa como pouso
esta noite.
Vereador de interior chega a ser até engraçado. Conhece desde a pessoa mais ilustre até o mais pé de chulé da cidade. Bastante
comunicativo acho que como todo vereador deve ser, me leva a um boteco aonde servem comida caseira. Lá, jantamos arroz, feijão e uma costela bastante saborosa, e olha que eu não gosto de carne gordurosa.
Após o jantar, o qual não me foi cobrado, sentamos para tomar uma gelada e jogar conversa fora com seus companheiros.
Este era um boteco típico de interior, feito de madeira e com uma mesa de sinuca velha aonde um grupo de homens se divertia. Aliás, neste tipo de bar praticamente não se vê uma alma feminina, somente homens bebendo , falando alto e esporadicamente um corpo esticado no chão,
o famoso pé inchado, pé de cana, pinguço ou qualquer outro adjetivo que qualifique o indivíduo que ultrapassou os limites do seu corpo através da ingestão excessiva de álcool.
Durante a conversa fico sabendo da história de vila Picada. O vereador ao meu lado de nome Ailton Picada, foi o fundador do local. Iniciou sozinho, ele e a esposa, com uma borracharia na beira da estrada de chão. Após um tempo a borracharia passou a ser um ponto de referência para os fazendeiros e caminhoneiros que trafegavam pela região.
Lutaram mais tarde para trazer energia elétrica para a região, depois para trazer a escola para as crianças das fazendas e devagar a vila foi crescendo.
Hoje, a vila já tem dois mercados, vários bares, energia elétrica, uma serraria de propriedade do vereador, escola e diversas residências.
Apesar de possuir uma caminhonete e uma serraria,a casa de seu Ailton é bastante simples, com chão de cimento cru, parte da estrutura em madeira, fogão a lenha e uma varanda com muito espaço, tipo palhoça. Adormeço na palhoça em uma rede e mais tarde seu Ailton me cede um cobertor.
Levanto-me cedo em uma manhã fria. Tudo leva a crer que o verão começa a se despedir. Alguns me dizem que após os primeiros dias de frio, as chuvas começam a cessar, os mosquitos a diminuir, o frio a aumentar e os carrapatos a chegar. Não saia na mata se não quer ficar coberto por minúsculos carrapatinhos. Para quem trabalha
na roça, sós lamentos, não tem escapatória!!!
O ônibus que vai para o destacamento militar de fortuna,próximo 9 km da aldeia, só passa ao meio dia.
Decido adiantar as coisas e seguir para beira da estrada para pegar uma carona.
Paro debaixo de uma goiabeira e divido meu café da manhã, goiabas, com galinhas ciscando e um bando de pequenos periquitos na copa.
Duas horas de espera na estrada e somente um
veículo em direção contrária.
Desde que o acesso principal à Bolívia foi mudado para San Matias, perto da cidade de Cáceres no Brasil, o movimento da estrada caiu muito, mas volta e meia um caminhão ou uma caminhonete ainda pegam a estrada em direção as fazendas do trajeto.
A fronteira é tão bem guardada que qualquer um, seja a pé ou de carro, passa sem ninguém incomodar.
Mais tarde, como que em um comboio, passam três caminhões.
Minha gandola (jaqueta) camuflada do exército me ajuda a parar o primeiro dos caminhões. Seu destino era uma fazenda próxima ao local para o qual me dirigia. A filha de um fazendeiro, dono de
fazendas de soja no norte do estado estava montando uma fazenda de pecuária no local. Terras virgens, compradas há alguns anos por $150,00 reais o hectare, desmatadas e preparadas para o gado por $300,00 dólares de custo o alqueire ou hectare (não me lembro muito). Isto segundo o meu companheiro de viagem, o caminhoneiro.
A viagem segue por uma hora e meia e a conversa flui até o meu destino. O ponto de parada é uma pequena estrada de acesso para a aldeia.
Agradeço e sigo o meu caminho.
Cinco km me separam da comunidade em uma estrada que atravessa o cerrado e florestas de transição. Somente eu, minha mochila e minha botina na estrada.
À medida que caminho, o dinheiro público vai sendo desperdiçado no meio do caminho. Já poderia estar no posto da aldeia realizando atendimentos e estou aqui, fazendo turismo de aventura devido à lentidão e a incompetência do poder público.
Alguns podem estar se perguntando como posso me sujeitar a tal coisa. Bem, são vários os motivos pelo qual ainda estou aqui. Entre eles estão minha família e a preferência em atender pessoas mais simples à madames da sociedade. É
também um modo de conhecer diversos lugares e outras culturas que a maioria das pessoas comuns da cidade nunca chegarão a conhecer. Lugares aonde só tem acesso quem trabalha no local como o pessoal da Funai, do meio ambiente e o pessoal da saúde.
Enquanto caminho penso nas pessoas que estão na academia pagando para fazer um pouco de esteira para emagrecer, e eu aqui malhando de graça, ou melhor, sendo pago para isto, além de estar
respirando o ar puro e em contato direto com a natureza. Este pensamento me ajuda a seguir em frente feliz!!!
A caminhada está tranqüila, pois é um dia fresco.
Chegando na primeira comunidade indígena, fui informado que a enfermeira se encontra no posto de
saúde e como não há nenhum veículo disponível, pernas para que te quero!!! Mais três quilômetros e meio.
É, MAIS UM POUQUINHO EU CHEGO LÁ. PASSO A PASSO!!!!!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

PASSO A PASSO


Passo a Passo eu chego lá.
Estamos na véspera da Páscoa de 2005 e todos sabem que se o serviço público já é lento normalmente, em véspera de feriado nem se fala.
Aqui estou eu, separando os medicamentos e materiais da minha próxima viagem em um dos meus dias de folga para conseguir seguir o cronograma de viagem. Se não conseguir hoje, numa sexta feira do dia 18 do mês de março, entraremos na semana do feriado aí não conseguirei mais.
Parte do material que havia pedido nem foi comprado. O dinheiro da compra dos produtos alimentícios ficou emperrado na nossa amiga burocracia e tivemos que desembolsar dinheiro do próprio bolso até que este fosse liberado.
Aos trancos e barrancos conseguimos organizar as coisas e marcar o dia de partida, dia 20 de março,domingo.
Desta vez, devido a falta de veículo do governo para o trabalho, teremos que ir de ônibus.
Algumas horas antes de irmos para a rodoviária, me liga o motorista da nossa equipe falando que eu era a única esperança. Alguém da coordenação solicitou o veículo para uma viagem e este teve que atende-lo. A solução encontrada seria usar meu carro particular para movimentar as caixas.
Achei tudo isto um absurdo,mas como tudo já estava marcado, passagens compradas, respirei fundo e fui pegar as coisas.
Tudo resolvido até a rodoviária, e a enfermeira e o motorista enfrentaram mais uma luta, como levar 20 caixas de medicamentos e materiais até o portão de embarque sem gastar dinheiro do próprio bolso?? A solução foi encenar que a enfermeira estava grávida para tentar conseguir um carrinho que havia disponível para gestantes.
Como nunca fizeram nenhum curso de teatro falharam em seu primeiro teste e tiveram que desembolsar.
Minha passagem estava marcada para as 23h30min. Marquei no último horário para passar mais tempo com a família. O problema estava no horário de chegada ao destino que seria às 04h30min da madrugada da segunda.
Entrei no ônibus, segui viagem, dormi muito bem, acordei na hora exata.
Abri os olhos dentro da rodoviária de Porto
Esperidião. O motorista do ônibus não ligou a luz nem avisou aos passageiros do destino. Se dormisse um pouco mais iria parar em Pontes Lacerda, a qual fica a algumas horas de Porto.
Horário de chegada, 04h30min da manhã, cidade completamente deserta.
Porto é uma cidade pequena com aproximadamente 10000 hab. Em sua zona urbana e destes 10000, não havia uma alma viva vagando por suas ruas neste horário. Ando sem destino como quem quisesse conhecer a cidade. Depois, sento no banco da rodoviária que na verdade é uma esquina de uma lanchonete e espero o dia clarear.
À medida que as horas passam, a cidade acorda. Devagar, o movimento nas ruas aumenta. Espero a padaria abrir para mais um café com leite e pão com presunto e queijo na padaria da esquina.
Para seguir viagem até a aldeia precisamos do nosso Jipe - carro que fica na aldeia para locomoção interna - o qual está na oficina. Andamos até lá e nada de jipe, nada de peças para o conserto. Maravilha, mais um contratempo!!!
A equipe de pesquisa do inseto barbeiro da prefeitura seguirá até a aldeia, mas só a enfermeira consegue embarcar já que só havia vaga para mais um na caminhonete. E lá vai ela, de carona...
Eu e o motorista de área ficamos, já que o secretário de obras garantiu que a peça chegaria na segunda à tarde.
Enquanto esperamos, descanso um pouco no hotelzinho da cidade.
Mais tarde, depois do almoço, seguimos para a oficina e nada!!! Ninguém sabe quando a peça e o carro estarão prontos para viagem.
Um dos vereadores do município está de partida para Vila Picada a qual fica a meio caminho da aldeia. Percebo uma oportunidade! A minha intenção é pegar carona até na vila e depois carona de novo com o ônibus escolar até a comunidade junto com os índios que estudam lá.

Passo a passo ainda chego lá. Até a próxima para continuar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NO LIMITE


Já que o nome do meu Blog é Crônicas da Floresta, resolvi fazer um pouco de crônica hoje apesar das outras postagens não se enquadrarem em uma crônica.
Domingo passado eu assisti na televisão o programa no limite, só por curiosidade já que passei tempos na floresta, quase no limite e fiquei curioso em saber como os "Braredos" - Brancos - da cidade se sairíam no meio do mato.
Fiquei perplexo ao ver um homenzarão chorar logo após matar uma galinha para comer. A madame ficou tão ruim que passou mal. Será que é nisso que estamos nos transformando na cidade? Será que ele nunca comeu uma galinha? É brincadeira!
Agora estou curioso para saber se até o final do programa, ele não se declarará homosexual. Ou será que isto é reflexo de muito tempo inserido no concreto sem qualquer outro tipo de experiência.
Antigamente os homens eram mais embrutecidos iguais aos nordestinos do sertão ou os índios da floresta, agora já existem os homosexuais( nada contra), os bisexuais, os pan sexuais e agora os mais contemporâneos metrosexuais.
Antigamente eu criava meus cravos como se fossem bichinhos de estimação e agora que represento uma empresa farmacêutica que tem em uma de suas preocupações o ramo da estética, estou fazendo até peeling para não sair mau na foto.
Acho que quando eu começar a chorar por causa de uma galinha será a hora de me preocupar e passar mais uma temporada na floresta para recuperar a macheza!!!!
Ainda não é a hora!!!!!!


Eduardo Ottoni fez peeling com ácido glicólico a 30%, mas como é macho, em vez de ficar 5 minutos com a cara ardendo ficou 15 e agora está com a cara toda ferida....
O apresentador de no limite é viado.

domingo, 2 de agosto de 2009

BOCA SECA


BOCA SECA

Na crônica anterior foi a vez das chuvas em território pantaneiro. Nesta elas chegaram em território chiquitano.


Olhando através da janela do meu consultório, vejo gotas de chuva caírem, a princípio um pouco tímidas, mas logo depois desabam em uma forte chuva.
O cheiro de terra molhada percorre as minhas narinas me fazendo lembrar dos tempos de campos verdes e um sorriso discreto se estampa em meu rosto.
Fazem 3 meses que a última gota de chuva caiu em solo chiquitano. O córrego da onça, antes fonte de preocupações e palco de cenas engraçadas já não preocupava mais. Seu solo seco tal qual solo nordestino em tempos de seca levanta poeira o que não lembra em nada a lama fétida dos tempos das águas no qual o nosso veículo atolava frequentemente.
A paisagem transfigurada da natureza local mostra a importância da água para a vida e demonstra também o quanto a mesma natureza é sábia. Para evitar a perda de água pela transpiração as folhas secam e caem fazendo com que as árvores pareçam mortas. Os pequenos arbustos secam por completo e até desaparecem, mas raízes robustas guardam sua fonte vital esperando justamente estes primeiras gosta que caem agora pela minha janela.
Nos tempos de seca a paisagem é pálida e embaçada. O ar é contaminado pela fumaça das queimadas as quais são herança de uma agricultura medieval e da ânsia do homem em transformar florestas em pastos. A fumaça e a poeira pairam no ar irritando os olhos de muitos e causando doenças respiratórias em outros.
Diversas vezes, noticiários anunciam que a umidade do ar é crítica ( menor que 20 % ) e chega a níveis de 9 a 12 %. Com esta umidade os lábios ressecam e a mucosa do nariz chega a sangrar. Apesar de sentir pouco os efeitos da poeira, fumaça e baixa umidade relativa do ar o número de atendimentos nos postos de saúde contradizem o que meu corpo fala.
As “ondas” repentinas de frio seco completam o quadro.
Mas nem tudo são males no inverno do sudoeste do Mato Grosso.
No meio dos tons pastéis florecem o ipê e a carijó. Cores vivas como o roxo e o amarelo brilhante se destacam. Ipês brancos dão o meio tom na paisagem diante dos meus olhos. As cores trazem a alegria de volta e mais uma vez mãe natureza dá um show de sabedoria adquirida nos milhões de anos de evolução. Algumas plantas florecem no meio da seca, formam suas sementes no final desta para que , com o início das águas, as mesmas possam germinar.
Caminhar na mata nesta época é tarefa fácil já que somente as árvores estão de pé. O difícil é não ser notado aonde em cada passo que se dá, galhos e folhas secas denunciam em bom som a sua presença. Qualquer animal maior é ouvido a distância.
Os tempos de seca são tempos de caça fácil já que a pouca água e a pouca comida limitam o seu território. Qualquer fonte de água ou árvore frutífera que tenha frutos, o que são poucas, pode ser um bom ponto de ”espera”. Caça-se caminhando pelas fontes de água remanescentes ou “esperando” à noite geralmente em uma rede armada a alguns metros acima do solo perto de uma fonte de comida.
Enquanto a chuva cai, lembranças da seca e dos tempos de chuva se misturam em minha memória.
Alguns dias após a primeira chuva, cai a segunda, e como em um passe de mágica tudo se transforma novamente. A vegetação rebrota com uma rapidez incrível e em poucos dias a paisagem outrora pálida volta aos seus tons verdes.
O som da mata também ganha um reforço poderoso com as chuvas. Antes adormecidas, as cigarras dão o acorde maior nas florestas suprimindo o som dos jaós, siriemas, macacos bugios e japuíras que dominavam o som das florestas na época da seca.
Com as águas, o ar começa a limpar, a vida a se mostrar, a lama a se formar e os mosquitos e cobras, os quais não deixaram nenhuma saudade nos tempos de seca, a reaparecer. O ciclo se completa!!!!!!!!
Ano a ano a natureza nos dá a chance de aprendermos com ela, e ainda assim temos dificuldades como um aluno que reprova um ano após o outro...


FIM