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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

COISAS DE ALDEIA


COISAS DE ALDEIA

Um dos passatempos que mais me dá prazer é o de olhar fotos antigas.
De tempos em tempos, sento eu e minha filha e/ou esposa na frente do computador ( é; álbum de fotografia já virou coisa do passado) e a medida que as fotos passam, comentamos algumas entre risadas e suspiros.
Hoje olhei uma das minhas fotos e lembrei de um fato , no mínimo, inusitado para não dizer bizarro, o qual me remete a mais ou menos um ano atrás.
Os bororos são um povo com uma relação bem íntima com os animais. Não é difícil achar animais selvagens como porco do mato, araras e outros animais vivendo como animais de estimação.
Ao passar por uma das casas bororo, vi uma arara vermelha com o bico deformado que de tão recurvado tinha a sua ponta pressionando a lateral da sua cabeça. E como os bicos das aves funcionam como se fossem seus dentes e como aconteceu de eu me formar odontólogo, ao ver tal cena retruquei inocentemente:
- Leva lá no consultório!
Alguns meses se passaram e o fato para mim já estava esquecido.
Trabalhava atendendo pacientes e o último da fila veio enrolado em um pano como um bebê em um cueiro. Um bela tropa acompanhava o pequeno paciente e eu, julgando pelo alvoroço, já achando que seria alguma fratura dentária.
Ao olhar o rosto do paciente, uma surpresa! Penas vermelho vivo e um bico. Ele nem humano era!
De olhar um tanto assustado, olha para mim como que pedindo cautela. O rosto familiar não era nem rosto familiar e sim cara familiar. Era a arara do bico torto.
Pensei:
- E agora? Veterinário não sou.
Mais um olhar em direção a nossa ilustre paciente e imagino sua dificuldade para manusear ( peraí, manusear não é só para quem tem mãos??), ou melhor “embiquesear”( ficou esquisito!) suculentas castanhas. Seu sofrimento me compadece.
Resolvo:
- Se bico é dente e, neste caso, dente é bico, e ela não me bicar, seu “dente” consertado será. O máximo que poderia acontecer é ter que fazdr um tratamento de canal em uma arara. Acredito que seria o primeiro do planeta.
Ao me aproximar a paciente reluta e reclama com um típico reclamar de arara, AAAAAHHHHRRRR!
Ao ouvir o zunido do motor, a mesma parece aceitar o inevitável. Inicio o tratamento sem a paciente dar nem mais um pio e sem mais nenhum movimento. Penso:
- Isto é que é paciente modelo. Acho que estava começando a entender o que lhe acontecia. Enquanto sua “mãe” a segurava e a confortava eu recortava, esculpia e redelineava seu bico com uma broca 3080. Sem anestesia local, geral ou qualquer tipo de psicotrópico. Nenhuma reclamação.
Alguns minutos depois, estava ela, linda como veio ao mundo, com seu bico novo pronto para destroçar castanhas.
Meu dever ecológico estava cumprido para um mês inteiro..
Mais tarde naquele dia, pensava com os meus botões:
- Realmente , isto são coisas de aldeia! Só espero que o próximo não seja um porco do mato!!!!!rsrsrsrsrrs.

Um comentário:

Gilberto Granato (Arawãkanto'i) disse...

Parabéns ao odontoveterinário!
agora, foi apenas um slyce?