Pesquisar este blog

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O SERTANEJO


O SERTANEJO

Chacoalhando em uma estrada de terra, chapéu de palha na cabeça e
chinelo de borracha no pé, segue o sertanejo. A cada solavanco
passado e presente entrelaçam-se em sua mente.
Após uma breve visita à cidade mais próxima para sacar a
aposentadoria o mesmo volta a sua humilde casa de barro batido em
armação de vara de taboca, esteios de tronco de aroeira, cobertura de
palha de indaiá e chão de terra batida. Com a comida quase faltando
em sua casa e apenas o resto de uma colheita de milho ainda no cesto,
o seu dinheiro é a principal fonte de renda entre os filhos que ainda
permanecem ao seu redor, uns casados outros não. A maioria trocou o
campo pela ilusão de uma vida melhor na cidade grande.
As pernas e braços mais fracos não permitem a mesma destreza da
juventude com o machado e a enxada, mas sua força parece inesgotável e
contrariando tudo se entrega ao trabalho pesado da roça.
Apesar do fardo pesado e da pele sulcada pelo sol e o tempo, seu
sorriso, dentre os dentes estragados, desperta uma alegria sincera. A
mão escreve o nome devagar sobre o papel branco indicando seu pouco
estudo na escola dos homens, mas os calos destas ressaltam sua
formatura na escola da vida, como um diploma que pudesse ser impresso
na pele do mesmo modo que uma tatuagem.
O sertanejo é com uma escultura lapidada pelo tempo. Quem o olha com
indiferença vê apenas uma figura humilde sem muita importância, mas
quem se atém aos detalhes, desvenda sua imagem complexa e consegue
enxergar além, a sua luta e sua grande importância.
No seu radinho de pilha, à luz da lamparina de querosene ou à luz das
estrelas. A música chorosa ecoa pelos campos e pelas matas. A música
fala da sua vida, da sua lida e de seus amores. Em um ambiente
rústico de poucas mulheres, aquela que marca fica registrada em seu
coração. Apesar da música chorosa o tocar, é a alegria sua
característica marcante.
Quem não entende o sertanejo não entende a sua música e a ignora ou a
despreza.
Quem não entende o sertanejo, nunca apertou um "punhado" de terra na
mão com o devido respeito que se deve a ela.
Quem senta com o sertanejo para uma conversa de coração aberto se
despe de preconceitos e abre sua visão para o que está nas entrelinhas
de seu palavriado carregado.
Minha visão romântica não me impede de ver o que não vale a pena ser
contado. Detalhes de menor importância dentre a sua importância.
Quem come um prato de comida nunca pensa em sua origem no campo, o
campo do sertanejo, da sua terra e de seus amores.
O que é vida para nós da cidade é a vida do sertanejo.

Um comentário:

Gilberto Granato (Arawãkanto'i) disse...

Lindo texto duda!!!
Antropologia pura...
gostei da inserção de fotos....