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sábado, 20 de setembro de 2008

Relógio Biológico


Pouco se fala neste tal de relógio biológico e quando se fala as opiniões são diversas. Uns falam que existe, outros falam que se existe o deles está quebrado e outros só querem saber de dormir. Eu sou um dos que acredita no relógio biológico e ultimamente acho que ele tem até GPS e mais um aditivo de localização que indica se é zona rural ou zona urbana.
Agora são 22:30 em Cuiabá , centro oeste brasileiro, zona urbana. Há um dia atrás, neste mesmo horário, estava dormindo profundamente em meu quarto telado contra os mosquitos, na aldeia indígena de Perigara(etnia Bororo), também no centro oeste brasileiro, ou melhor no extremo oeste Brasileiro, mas na zona rural.
Aqui me encontro, por falta de sono, escrevendo em meu caderninho espiral de capa flexível ( aquele que nossos avós usavam) com uma canete esferográfica, também outra peça prestes a pedir aposentadoria.
Uso este caderninho para anotar memórias, pensamentos e filosofar sobre cadernos, canetas e relógios biológicos. Você deve estar pensando: - Mas ele ainda não tem um notebook?!
Não, eu ainda não comprei um laptop( outro nome da peça tecnológica)! Não por falta de caixa, mas mais por pensar que na conjuntura atual, não irei utiliza-lo plenamente e que daqui a alguns meses surgirá um computador portátil ( outro nome) 100 vezes mais potente, 1000 vezes mais rápido e por um terço do valor; ou talvez porque eu seja apenas pão duro mesmo. De qualquer maneira, sovina ou não, mesmo não possuindo o aparato tecnológico já me passa uma certa estranheza estar escrevendo em uma folha feita de uma árvore, com uma caneta feita com derivados do petróleo e metal e utilizando os movimentos da minha mão coordenados por estímulos elétricos cerebrais; resultando nesta ridícula letra minha e suas inúmeras rasuras que só podem ser apagadas com liquid paper, errorex, corretivo, ou seja, lá como vocês chamam este líquido branco utilizado para encobrir seus erros. Liquid Paper! Pelo amor de Deus! Já vejo estas páginas como peças de museu e ainda assim não comprei meu laptop.
Quando estou na zona rural, meu relógio biológico segue o dos passarinhos. Durmo as 8:30 e acordo as 5:45. Quando estou na zona urbana, como num passe de mágica; Tum! Durmo mais tarde e acordo mais tarde também. Quando volto para Vitória, sudoeste brasileiro,zona urbana, meu relógio segue o horário de Brasília.
Ultimamente ele tem estado bastante preciso, é só concentrar antes de dormir, ajustar e pronto acordo no horário planejado ou até antes dele sem nenhuma musiquinha irritante nos meus ouvidos.
Em uma das aldeias, antes de anoitecer, ligo o gerador de energia a diesel com a ajuda de uma manivela, ligo o computador ( não, não é um notebook), conecto-me na internet via satélite, leio meus e-mails, depois atualizo meus relatórios em infindáveis formulários de papel feitos de árvores, desligo o gerador puxando um arame, acendo uma vela para iluminar meus últimos 10 minutos de pensamentos antes do sopro final e da escuridão. Percebeu?! O choque de gerações?!
Os postes de energia já estão chegando na aldeia. Estão lá no chão há uns 2 meses esperando para serem levantados enquanto alguns indígenas já fazem suas dívidas em eletrodomésticos. Televisão, geladeira e máquina de lavar são os mais cotados. Os computadores já chegaram, tanto no posto de saúde quando da escola e olha que na escola nem os tijolos chegaram ainda!
Creio que chegará um tempo que meu relógio biológico não distinguirá zona urbana de zona rural. Creio que chegará o tempo que comprarei um notebook não precisando mais transcrever e digitalizar as letras escritas neste papel e creio também que dois meses depois, terei de comprar outro pois o que acabei de comprar já estará desatualizado pois só terá um HD de 1 terabite e uma memória de 20 gigas conectando-me a apenas 50 megabites por segundo na Web. Quando este tempo chegar, a única coisa que permanecerá imutável será o meu relógio biológico, ajustando-se apenas pelos fusos do planeta ou quem sabe da galáxia. Este sim poderei confiar, e trabalharei hoje para que um dia possa estar tão preciso quanto um relógio atômico! Ufa! Vou dormir! Meu relógio biológico me chama! Tec! Boa noite!

Um comentário:

Gilberto Granato (Arawãkanto'i) disse...

irado!!!! muito poético... muito boa analogia... parabéns... esta vai pro livro.....